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O Cimi perde Edina Margarida Pitarelli, missionária do Regional Norte I levada pela covid-19

NOTA PÚBLICA – Missionária estava internada há quase um mês, em Manaus, por conta da covid-19 e não resistiu à doença



Sempre com um sorriso no rosto e entusiasmo, Edina enfrentou ameaças, conflitos e privações em apoio aos povos indígenas. Crédito da foto: Cimi Regional Norte I


Ainda em luto pela morte do jornalista e assessor de comunicação, J. Rosha, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte I informa com grande pesar a morte de Edina Margarida Pitarelli, de 56 anos, na tarde desta sexta-feira (04), em Manaus (AM). A missionária não resistiu à covid-19. Ela estava internada no Hospital Delphina Aziz desde o dia 10 de novembro, data da morte de J.Rosha.


Aos familiares de Edina, o Cimi deixa toda solidariedade e apoio neste momento de dor.


Natural de Boa Vista, no Paraná, Edina nasceu no dia 17 de outubro de 1964. Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, iniciou sua vida missionária na Congregação Religiosa Servas do Espírito Santo, em Toledo (PR), passando por Rondônia, Roraima e, por fim, Amazonas.


Sua atuação sempre esteve ligada aos pobres, trabalhadores rurais e indígenas, atuando desde 1994 no Cimi onde chegou chegou a ser coordenadora do regional Norte I, que abrange Amazônia e Roraima. Sempre teve um cuidado especial com a atenção à saúde nas comunidades, recorrendo à medicina natural. Para isso fez cursos de Naturopatia e Homeopatia.


Sua vontade de ingressar no Cimi e se dedicar à causa indígena se concretizou com a ida a Roraima para integrar uma comunidade das Servas do Espírito Santo, que atuava com os povos indígenas Macuxi, Wapichana e Sapará na região de Amajari, integrando a Pastoral Indigenista da Diocese de Roraima.


A chegada de Edina ao Cimi Regional Norte I se deu em 2000, fazendo as duas etapas do Curso de Formação Básica nos anos 2001 e 2002 – processo formativo interno do Cimi destinado aos missionários e missionárias. O apoio da equipe indigenista de Amajari ao processo organizativo dos povos indígenas e a demarcação de suas terras provocou a reação violenta de fazendeiros da região.


Em 2000, Edina e Sirley Weber, ambas missionárias Servas do Espírito Santo, acompanhadas por indígenas, sofreram uma emboscada na ponte sobre o rio Ereu quando se dirigiam à comunidade indígena Ananás. Um grupo de aproximadamente 30 homens parou o veículo da Diocese em que viajava as missionárias e indígenas, fechando a ponte. Armados de paus e facões, subjugaram e ameaçaram as religiosas e os indígenas durante mais de uma hora. Por fim, atiraram a camioneta de cima da ponte e obrigaram o grupo a continuar o caminho a pé.


Em agosto, Edina durante coletiva para denunciar a violência praticada por policiais contra indígenas e ribeirinhos do rio Abacaxis. Crédito da foto: J.Rosha/Cimi Regional Norte I


Edina integrou a equipe de Coordenação do Cimi Norte I, entre 2007 a 2015. De 2011 a 2015, representou o Regional no Conselho Nacional do Cimi. Com muita dedicação e entusiasmo, animou as equipes locais do Cimi no Amazonas e Roraima no seu apoio às lutas dos povos indígenas pela conquista de direitos, como mobilizações indígenas, processos de formação nas comunidades, campanhas e incidências políticas junto aos órgãos públicos.


Após o período de coordenação, Edina passou a integrar a equipe local do Cimi na Prelazia de Borba (AM), na atuação junto aos povos indígenas Mura e Maraguá. Outra vez sua missão se dá num contexto conflitivo devido à violação sistemática dos direitos territoriais dos povos indígenas.


Nesta região, Edina tinha o desafio de acompanhar comunidades que enfrentam grandes desafios como a retomada e demarcação de suas terras, a violência de invasores, ameaças de morte de lideranças, búfalos de fazendeiros destruindo as plantações e mananciais de água de comunidades, exploração ilegal de riquezas naturais, além de um grande projeto de exploração de potássio.


Edina e equipe, neste contexto, se dedicaram ao apoio ao processo de articulação e mobilização, pressão junto aos órgãos públicos competentes, fortalecimento das comunidades com iniciativas de formação política e jurídica, medicina natural, jovens comunicadores e economias indígenas. Edina tinha uma enorme capacidade de articular múltiplas iniciativas em vista de atender as demandas dos povos indígenas.


No contexto da pandemia da covid-19, Edina e equipe se empenharam no apoio às barreiras sanitárias, na distribuição de alimentos e kits de limpeza e higiene pessoal e na distribuição de 800 mudas de árvores e sementes de diversas fruteiras e legumes da região, a pedido dos indígenas. Também, junto com às Servas do Espírito Santo de Manaus ajudou a preparar 3 mil frascos de um complexo homeopático para distribuição nas comunidades indígenas.




Edina (centro da foto) ajudou a preparar 3 mil frascos de um complexo homeopático para distribuição nas comunidades indígenas cujo objetivo é o de fortalecer a imunidade. Crédito da foto: Cimi Regional Norte I


Edina nesses últimos meses também integrou pelo Cimi um coletivo de 50 entidades da sociedade civil para denunciar e exigir providências diante da brutal violência da Polícia Militar do Amazonas praticada, em agosto, contra as comunidades indígenas e ribeirinhas na região do rio Abacaxis, entre os municípios de Borba e Nova Olinda do Norte (AM), com o pretexto do combate ao narcotráfico.


Segundo os habitantes da região, policiais espalharam o terror nas comunidades, ameaçaram lideranças, torturaram indígenas e ribeirinhos e queimaram casas. Ribeirinhos e dois jovens indígenas Munduruku foram executados. Edina integrou uma equipe do coletivo de entidades que se deslocou para a região para prestar solidariedade às comunidades e recolher depoimentos.


Abnegada e resoluta em sua missão, a de servir aos povos indígenas e às demais comunidades maltratadas pela desigualdade e violações de direitos, Edina deixa um legado de luta e amor do qual jamais nos esqueceremos.


Esta bandeira, tecida pela crença de que os povos indígenas terão suas vidas garantidas e respeitadas, esta mesma bandeira que agora está a meio mastro, em luto, será novamente erguida para nos guiar por ventos de transformação para uma manhã onde o fascismo e sua fixação pela morte, facilitador desta pandemia aqui no Brasil, mais uma vez estejam derrotados.


Seguiremos com a luta e a esperança de Edina, J.Rosha e todas e todos que perdemos neste ano de muitas provações e dor. Se cuidem, cuidem de suas comunidades e aldeias: a pandemia e o governo Bolsonaro ainda não acabaram.


Manaus, 5 de dezembro de 2020

Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Norte I – AM/RR

Fonte: Cimi Regional Norte I

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