No AM, indígenas Yanomami também enfrentam falta de medicamentos, assistência e doenças
Segundo comunicador da etnia, cerca de 20 indígenas estão internados em São Gabriel da Cachoeira.
Por Matheus Castro, g1 AM
Crédito: Reprodução/G1 AM
Indígenas Yanomami que vivem no Amazonas estão sofrendo com o aumento de casos de diarreia e pneumonia nas comunidades, que também enfrentam a falta de medicamentos básicos para conter o avanço das doenças.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami - que compreende o estado de Roraima e parte do Amazonas - registra nos últimos anos agravamento na saúde dos indígenas, com casos graves de crianças e adultos com desnutrição severa, verminose e malária, em meio ao avanço do garimpo ilegal. Segundo o Ministério da Saúde, mais de mil indígenas em estado grave foram resgatados nos últimos dias e estão na Casa de Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista.
No Amazonas, a cidade de São Gabriel da Cachoeira, que fica próximo à Terra Indígena, tem sido o ponto de acolhida dos indígenas que apresentam os quadros mais graves de diarréia, verminoses e pneumonia. Ao g1, o comunicador Valdemar Lins, que mora na cidade contou que cerca de 20 estão internados na sede da Casai no município. Ele também denuncia a falta de medicamentos para tratar as doenças.
"Nós temos cerca de 20 pessoas internadas com problemas intestinais e pneumonia na Casai de São Gabriel. São parentes que vivem em comunidades de difícil acesso e onde falta tudo, principalmente medicamentos básicos para enfrentar essas doenças, como, dipirona, paracetamol e remédios para vermes.", contou.
Segundo Valdemar, existem seis polos-base de saúde indígena dentro do território Yanomami no Amazonas. No entanto, os espaços não têm profissionais suficientes para atender os povos tradicionais, o que prejudica ainda no agravamento dos quadros de saúde.
"Esses polos-base ficam dentro das comunidades. Ou seja, a gente tem a estrutura, mas não tem equipamento e nem pessoal. Só temos um técnico de enfermagem para atender toda essa gente, que vem pelo Dsei Yanomami, de Roraima. Não tem um médico. São cerca de 10 mil pessoas que moram nessa parte do território aqui no estado, mas não tem uma estrutura adequada para os nossos parentes", afirmou.
O problema, segundo ele, é consequência da ação de garimpeiros na região. De acordo com Valdemar, há inúmeros garimpos dentro da Terra Yanomami, principalmente na fronteira do Brasil com a Venezuela. A falta de fiscalização por parte das autoridades ajuda na proliferação de pessoas que se dedicam à prática criminosa na região.
"O garimpo fica na fronteira com a Venezuela, mas a entrada é por aqui. O acesso é feito por aqui e não há uma fiscalização propriamente dita, podemos assim dizer. Quando o rio enche, eles conseguem adentrar mais facilmente nessas regiões de garimpo através do lado brasileiro. E eles não usam dragas. Eles mexem nas cabeceiras dos rios e transitam por voadeira, motor 40 hp", finalizou.
O g1 questionou o Ministério da Saúde sobre as denúncias feitas pelo comunicador, e aguarda resposta.
Crise sanitária
Mais de mil indígenas em estado grave de saúde foram resgatados da Terra Indígena Yanomami nos últimos dias por equipes do Ministério da Saúde que atuam de forma emergencial em comunidades dentro da reserva.
A estimativa foi divulgada na semana passada pelo secretário de Saúde Indígena (Sesai) do ministério, Weibe Tapeba, durante coletiva de imprensa em Boa Vista.
As equipes estão na reserva desde o dia 16 de janeiro para atuar frente à desassistência sanitária no território. Os indígenas sofrem, principalmente, com malária e com desnutrição grave, afirma Tapeba.
"Nós acreditamos que mais de mil indígenas foram resgatados nesses últimos dias do território para não morrer", afirmou. Em uma semana, o único hospital infantil do estado recebeu 29 crianças Yanomami doentes.
Os indígenas são resgatados das comunidades onde vivem e levados ao posto de Surucucu – uma unidade considerada de referência na região, mas que se resume a um barracão de madeira de chão batido e com estrutura precária.
De lá, os quadros gravíssimos são encaminhados para Boa Vista.
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