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Líder indígena morre e adolescente fica ferido após ataque a tiros de garimpeiros na TI Yanomami

Informação consta em ofício da Hutukara Associação Yanomami (HAY). O ataque aconteceu na comunidade Napolepi, na Terra Indígena Yanomami, em Alto Alegre.


Por Por Samantha Rufino, g1 RR — Boa Vista

Líder Yanomami é baleado e adolescente fica ferido após ataque de garimpeiros
Adolescente ficou ferido no rosto e pescoço. Crédito: Divulgação/Hutukara

Um líder indígena, identificado apenas como Cleomar, de 46 anos, morreu após um ataque a tiros de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. Um adolescente, de 15 anos, ficou ferido durante o ataque. A informação consta em ofício da Hutukara Associação Yanomami (HAY), obtido com exclusividade pelo g1, nesta quarta-feira (05).


O ataque aconteceu na comunidade Napolepi, na Terra Indígena Yanomami, em Alto Alegre no último domingo (2). Na ocasião, um grupo de cinco indígenas, estavam em uma cantina, local onde garimpeiros vendem itens de alimentação, próxima à comunidade de Napolepi, no rio Uraricoera.


A Associação enviou o documento ao Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Polícia Federal. Procurados, os órgãos não responderam até a última atualização da matéria.


O documento é assinado pelo líder indígena Dário Kopenawa. Nas redes sociais, ele comentou sobre o caso: "Estamos esgotados de pedir pelo mínimo".


Antes do ataque, o dono da cantina avisou aos yanomami que um grupo de garimpeiros membros de facção estavam vindo para atacá-los. O garimpeiro soube do ataque através de grupos de mensagens em que os garimpeiros se comunicam.


"Diz-se que o garimpeiro soube do ataque iminente em grupos de whatsapp por onde se comunicam os garimpeiros “que atacam pessoas”, que se denominam de “lobos”. Antes que pudessem se esconder, um grupo grande de garimpeiros chegou em dois barcos, pilotados por garimpeiros, e dispararam tiros contra os Yanomami", cita trecho do documento.


O ataque foi feito por um grupo de 10 homens. Os indígenas tentaram escapar se jogando no rio, mas Cleomar foi atingido por vários tiros, na testa e no tórax e faleceu. Já o adolescente caiu sobre um dos barcos e foi baleado no rosto. O tiro também atingiu a nuca do indígena.


Cleomar foi enterrado na comunidade de Napolepi, onde os indígenas têm por costume sepultar seus mortos. O adolescente foi encaminhado ao Hospital Geral de Roraima (HGR) para receber atendimento e depois encaminhado à Casai.


À Hutukura, o pai do adolescente relatou que não sabe dizer o que pode ter motivado o ataque. Uma das suspeitas é devido ao sumiço de uma caixa de cachaça e acusação de furto por partes do indígenas.

Outra suspeita é que os garimpeiros que organizaram o ataque fazem parte de uma facção criminosa. Os garimpeiros instalados próximos à comunidade de Napolepi negaram a participação.


"É de extrema gravidade que yanomami reunidos pacificamente nas mediações de sua própria comunidade sejam friamente atacados por armas de fogo, levando à morte e ferimentos graves", argumenta o ofício.

Entre os pedidos da Associação estão a retirada dos garimpeiros e do garimpo na TI Yanomami, além da reconstrução da Base de Proteção Etnoambiental (Bape) de Korekorema, a presença da Força Nacional na região para impedir novos ataques e a "neutralização de membros de facção que se organizam nos focos garimpeiros instalados no rio Uraricoera."


Ameaças


Pouco antes do ataque, os yanomami receberam ameaças de garimpeiro, de acordo com a Hutukara. Ele alertou os indígenas para que não fossem contra o garimpo para que os ataques que aconteceram em 2021 não se repetissem.


Isto porque no local há presença dos garimpeiros membros de facção e armados com fuzis. Em junho de 2021, uma série de conflitos entre indígenas e garimpeiros foram registrados no território.


"Já não é possível caçar ou pescar na região pois as áreas onde o faziam foram ocupadas pelo garimpo. São constantes os temores com a quantidade de garimpeiros subindo e descendo do rio fortemente armados", menciona o ofício.


Terra Yanomami


Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, e parte da Venezuela. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região em mais de 360 comunidades.


A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, essa busca pelo minério se intensificou, causando além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça a saúde dos indígenas.


A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.

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