Líder Ianomâmi, Davi Kopenawa é novo membro da Academia Brasileira de Ciências
Publicado em Folha de São Paulo
Kopenawa, primeiro indígena eleito na academia, deve tomar posse no primeiro dia de janeiro
FOTO: Right Livelihood Foundation/Divulgação
SÃO PAULO
Um dos principais líderes do povo ianomâmi, Davi Kopenawa foi eleito membro colaborador da ABC (Academia Brasileira de Ciências). Ele toma posse no dia 1º de janeiro. Trata-se do primeiro indígena a integrar a academia.
A ABC, fundada em 1916 e uma das mais tradicionais associações científicas do país, diz que para fazer parte de seu quadro, reconhece os mais importantes pesquisadores brasileiros, que "podem ser considerados os representates mais legítimos da comunidade científica nacional". O foco da academia, com seus mais de 900 membros, é o desenvolvimento científico do Brasil.
O líder indígena foi uma das pessoas dos que chamou mais atenção para o risco da Covid-19 para as populações tradicionais. Além disso, Kopenawa tem sido uma voz constante na luta contra a violência contra indígenas e para evitar a presença prejudicial de garimpos na Terra Indígena (TI) Ianomami.
No fim de 2019, ele recebeu, junto com a Associação Hutukara Yanomami, o Prêmio Right Livelihood, apelidado de “Nobel alternativo”, destinado a homenagear aqueles que oferecem respostas práticas e exemplares para os desafios mais urgentes enfrentados atualmente. Na mesma premiação, também foi homenageada a jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg.
Kopenawa é autor, ao lado de Bruce Albert, de "A Queda do Céu - Palavras de um Xamã Yanomami”, livro lançado pela Companhia das Letras.
Publicada originalmente em francês em 2010, na coleção Terre Humaine, a história traz as observações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. O livro foi escrito a partir de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade —foram mais de 40 anos de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa.
Segundo descrição da Companhia das Letras, a vocação de xamã desde a primeira infância, fruto de um saber cosmológico adquirido graças ao uso de potentes alucinógenos, é o primeiro dos três pilares que estruturam este livro. O segundo é o relato do avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias, violência e destruição. Por fim, os autores trazem a odisseia do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo.
Os Ianomâmis lutam há décadas contra o garimpo. Os primeiros contatos sistemáticos de brancos com eles, em território brasileiro, aconteceram nos anos 1940.
O contato com os "napë" (brancos), porém, trouxe uma enorme quantidade de mortes por doenças como gripe, sarampo e rubéola, além dos massacres ao povo indígena.
"Napë", para ianomâmis, de forma geral, significa garimpeiros, que produziram sérios conflitos dentro do território, e continuam em atividade na área. Um dos casos emblemátcos foi o massacre de Haximu (1993), que resultou na morte de 16 indígenas, principalmete de mulheres, crianças e velhos. O fato ocorreu após o assassinato de um garimpeiro.
Kopenawa dizia que não adianta brigar com "napë", pelas suas armas de fogo, tratores e o fogo na mata.
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