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Conselho relata morte de crianças Yanomami com quadro de verminose e cobra da Sesai remédio

No dia das mortes, o presidente do Condisi-YY afirmou que viu vermes saindo do corpo de uma das crianças. Ofício comunicando a falta de medicamento para tratar a doença foi enviado dois dias antes das mortes.


Por: Samantha Rufino para G1 RR

Conselho relata morte de crianças Yanomami com quadro de verminose e cobra da Sesai remédio para tratar doença
Crédito: Júnior Hekurari/Arquivo Pessoal

Duas crianças, de 3 anos, com quadro grave de verminose e outras doenças morreram na Terra Indígena Yanomami, informou o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.


As duas, segundo o Condisi-YY, viviam na comunidade Tirei, localizada na região de Xitei e ambas morreram no último sábado (25). Uma na própria comunidade e a outra no polo de saúde de Surucucu, para onde foi levada numa tentativa de tratamento.


Os óbitos ocorrem dois dias após o Condisi-YY, que é responsável por fiscalizar o serviço de saúde, relatar ao Ministério da Saúde a falta do remédio usado para tratamento de verme.


"Uma das crianças morreu de madrugada na comunidade e a outra à tarde, depois que foi removida para Surucucu", afirma Hekurari, que está na região e disse que na tarde dessa terça-feira (28) levou o corpo da menina de volta para Tirei.


O ofício, citando a falta do medicamento Albendazol, usado para tratar doenças causadas por vermes e parasitas, foi enviado no dia 25 para o titular da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Reginaldo Ramos da Silva, e ao Coordenador Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Dsei) Ramsés Almeida da Silva, ambos ligados ao Ministério da Saúde.


Procurado, o Ministério da Saúde, que responde pelo Dsei-YY e pela Sesai, não enviou resposta até a última atualização da reportagem.


O caso da criança que morreu em Surucucu era tão grave, segundo Hekurari, que dava para ver vermes saindo do corpo dela.


O presidente do Conselho divulgou a ficha de atendimento da paciente, onde foi listado o diagnóstico de pneumonia e desidratação grave, além de histórico anterior para verminose e anemia como os motivos para a remoção da comunidade Tirei para Surucucu.


Ao chegar em Surucucu, a situação dela foi classificada como grave, e que a menina estava letárgica não respondendo a estímulo (veja abaixo).


"A gente viu [as vermes] saindo do corpo da criança. Está tendo muito surto de diarreia de desidratação nas crianças, muita malária. Então, estamos com esses problemas muito graves", relatou Hekurari.


Na comunidade Tirei vivem cerca de 150 indígenas. A região está localizada a 50 metros de uma área de garimpo ilegal. Por conta disso, Hekurari afirma que água usada para consumo está contaminada, o que faz com que as crianças adoeçam. O problema, segundo ele, afeta crianças de outras regiões, que também estão doentes.


"A questão de diarreia é causada exatamente porque a água é cheia de lama. Os garimpeiros sujaram tudo. A comunidade está a 50 metros dos garimpeiros. O povo Yanomami está sofrendo muito, a gente não tem nenhum tipo de apoio", disse.


Ainda de acordo com Hekurari, o coordenador do Dsei já está ciente do aumento de infectados pela doença e já preparou uma equipe médica para reforçar o atendimento.


Além disso, os corpos só foram levados de volta para a comunidade nessa terça-feira (27). Isto porque a aeronave usada para remoção estava em conserto na capital Boa Vista.


Devido ao aumento de casos de malária e verminose, Hekurari afirma que, apesar do esforço dos profissionais de saúde, as equipes não conseguem atender todos os pacientes. Em alguns caso, é necessário fazer remoção para Boa Vista. O mesmo problema ocorre em outras comunidades, que também enfrentam a falta dos medicamentos.


"As remoções são consequências das fragilidades nos postos de saúde da Território Yanomami. Portanto, o Dsei precisa manter o estoque de medicamentos necessários para atender as demandas de acordo com a população e os índices de doenças", cita trecho do ofício.


Nas redes sociais, Hekurari pediu a retirada dos garimpeiros da reserva e avaliou que "falta um olhar solidário e humano do governo" para a população indígena.


Região com forte presença de garimpeiros


A região de Xitei, onde fica localizada a comunidade de Tirei, é uma das mais afetadas pela atividade do garimpo ilegal. Em abril deste ano, o g1 mostrou como jovens indígenas são recrutados para trabalhar no garimpo em troca de armas e cachaça.


No mesmo mês, indígenas da comunidade Tirei receberam armas de garimpeiros para atacar a comunidade de Pixahenabi. No conflito, dois indígenas morreram e outros cinco ficaram feridos.


À época, Hekurari explicou que o conflito aconteceu devido os indígenas da comunidade Tirei serem a favor do garimpo, inclusive, com alguns deles trabalhando na mineração.


Terra Yanomami


Maior reserva indígena do pais, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares distribuídos no Amazonas e em Roraima, onde fica a maior parte. A região é formada por 371 comunidades de difícil acesso. Mais de 28 mil indígenas vivem na reserva.


A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, a busca pelo minério se intensificou, causando além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça a saúde dos indígenas. A estimativa é que há 20 mil invasores na região.


A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.

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