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Casa de líder indígena é incendiada na Raposa Serra do Sol, organização suspeita de ato criminoso

Indígenas da comunidade Mutum fazem fiscalização para impedir entradas de garimpeiros na região e Conselho Indígena de Roraima acredita que isso motivou ataque.



Casa de liderança indígena é incendiada na Raposa Serra do Sol e organização suspeita de ato criminoso
Móveis destruídos pelo incêndio na comunidade Mutum, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Crédito: Arquivo pessoal

A casa de uma liderança indígena do povo Macuxi, na comunidade Mutum, foi incendiada por criminosos, segundo relato do Conselho Indígena de Roraima (CIR) nessa segunda-feira (27). A residência fica localizada na região Serras, na Terra Indígena Raposa Serra Sol, em Uiramutã, ao Norte de Roraima.


A suspeita do CIR é que o ato tenha sido criminoso em razão das atividades de vigilância e monitoramento que os indígenas fazem na região para impedir a entrada de garimpeiros ilegais, maquinário de garimpo, bebidas alcoólicas, drogas ilícitas e não indígenas sem autorização.


O CIR é uma organização indígena, não-governamental, que atua há mais de cinco décadas pela garantia dos direitos assegurados na Constituição Federal e o fortalecimento da autonomia dos povos indígenas Roraima.

O crime aconteceu por volta das 2h30 do último sábado (24). O ataque foi relatado por meio de uma carta escrita à mão pelos indígenas da região.


No relato, eles disseram que o fogo queimou utensílios de cozinha, motor, fogão, botijão de gás, redes e até as telhas da casa. As paredes e possivelmente a estrutura da residência também foram comprometidas.


Documentos da comunidade que ficavam guardados na casa também foram queimados. Além disso, um notebook e um relógio de pulso foram roubados.


O incêndio só foi controlado por volta das 4h30, após a ajuda de moradores da comunidade, segundo o CIR. Na carta, os indígenas apontaram um possível suspeito, identificado apenas pelo apelido de "Zé capeta".


O Conselho informou que a região é rota de tráfico, e, por ser próxima à fronteira com a Guiana, também é um caminho usado por foragidos e garimpeiros ilegais. Por conta disso, a organização afirma que a liderança indígena que teve a casa queimada já sofreu ameaças e não se sente segura na comunidade.


Ao g1, a assessoria jurídica do CIR informou que um boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Civil. O caso foi registrado como crime de ameaça contra a liderança da comunidade Mutum.


"Como o incêndio está sendo tratado como uma retaliação em razão das denúncias feitas pelas lideranças da comunidade contra o garimpo naquela região, o caso foi encaminhado para a Polícia Federal e estamos aguardando a instauração de inquérito e demais providencias", informou.


A denúncia também foi encaminhada para o Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) para apuração do ocorrido. A reportagem tentou contato com os órgãos, mas não obteve retorno até a última atualização.


Em nota, a Polícia Civil informou que a "investigação está em andamento e diligências estão sendo realizadas" por meio da Delegacia de Pacaraima, que atende a região.


A área de atuação do CIR abrange as 35 terras indígenas de Roraima, com uma extensão de mais de 10 milhões de hectares, onde vive uma população de 58 mil indígenas em 465 comunidades em Roraima, o que inclui os povos Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Patamona, Sapará, Taurepang, Wai-Wai, Yanomami, Yekuana e Pirititi.

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