Líder indígena denuncia descaso com saúde de crianças Yanomami; ‘estão morrendo por vermes e malária
Por Bruno Pacheco para Agência Amazônia
MANAUS – O líder indígena Dário Kopenawa Yanomami voltou a denunciar um “caos sanitário e humanitário” entre a população de seu povo e a publicar relatos de crianças da etnia morrendo por conta da infecção de vermes e malária em Terras Indígenas Yanomami entre os Estados de Roraima e Amazonas. O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY) afirmou, em uma publicação nas redes sociais, na quarta-feira, 20, que a saúde da região está em colapso em meio à falta de medicamentos.
“Na TIY [Terra Indígena Yanomami], as nossas crianças estão morrendo por vermes e malária, DSEI- Yanomami e Sesai de Brasília não cobram medicamentos. Sem medicamentos nas bases, nossa saúde Yanomami está em colapso, vejam as imagens, vermes que sai da boca“, desabafou na quarta-feira, 20, Dário Yanomami, no Twitter.
A maior Terra Indígena do Brasil, o território Yanomami é homologado desde 1992 e contém cerca de 30 mil pessoas, em 363 aldeias, em um espaço de 9,6 milhões de hectares de Floresta Amazônica que abrange os Estados do Amazonas e Roraima. A região tem sido palco de desmatamento, garimpo ilegal, contaminação por mercúrio, conflitos por disputa territorial, ouro, pesca ilegal e aumento de casos de malária e desnutrição infantil.
No último dia 14, entidades indigenistas e socioambientais denunciaram à comissão externa da Câmara dos Deputados que uma “tragédia humanitária” está em curso na Terra Indígena Yanomami (TIY). Aos parlamentares, Dário Yanomami relatou que a proximidade de comunidades, como a Homoxi, com o garimpo ilegal, tem feito com que crianças sejam contaminadas por mercúrio – elemento químico usado por máquinas pesadas (dragas e balsas) para atrair o ouro como um ímã.
Dário Yanomami publicou o relato nas redes sociais (Reprodução)
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O uso da substância pode causar diversos problemas na saúde da população ribeirinha, indígena e até mesmo de garimpeiros. Especialistas afirmam que os efeitos tóxicos pelo mercúrio, como danos na visão, ao cérebro, rins e pulmões, podem ainda resultar em doenças como a Síndrome de Minamata (nome derivado de uma cidade japonesa que sofreu com uma contaminação em massa pelo metal, em 1954, provocando a morte de milhares de pessoas).
Sem medicamentos
Em nota publicada nas redes sociais, no último dia 7 de julho, a Hutukara Associação Yanomami fez o primeiro relato sobre a situação sanitária. Para a organização, o Distrito Sanitário Especial de Saúde Yanomami e Ye’kwana (Dsei-YY) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não estão cuidando bem da população indígena na assistência de saúde.
No texto, a HAY descreveu que a falta de medicamentos na região ocorre há, pelo menos, dois anos em 37 polos-base, fazendo com que crianças e adultos fiquem mais vulneráveis a doenças. “Cada vez mais, nossa saúde Yanomami está piorando e amis morrendo de malária e vermes. Situação dos Yanomami está muito grave na assistência de saúde, muita gente está morrendo na TIY”, denunciou a associação.
“Há muitos anos, nós, lideranças, pedimos melhoria, cada vez mais está precária nossa saúde. Coordenadores passados deixaram buraco muito grave na assistência de Saúde Yanomami, por isso, não está funcionando bem, isso significa que não tem responsabilidade na saúde”, continuou a Hutukara Associação Yanomami (HAY).
Carta alerta
Em carta endereçada ao coordenador do Distrito Sanitário Yanomami e Ye’kwana (Dsei-YY) e ao presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana (Condisi-YY), no dia 12 de julho, a Hutukara Associação Yanomami destacou a situação vivida pelas crianças da região.
No documento de 4 páginas, a associação relata sobre a falta do medicamento básico que auxilia no combate e tratamento de pacientes com verminose. “Nesses últimos 9 meses, nos postos de saúde que estão em nossa terra, não vimos Albendazol, um medicamento barato e básico para tratamento de verminoses, neste DSEI, que possui menos de 10% das comunidades com acesso à água potável, por poços artesianos, e outros sistemas de acesso à água”, destaca o texto da Hutukara que revela:
“A obstrução intestinal por bolo de áscaris, e nossas crianças chegar ao ponto de expelir vermes pela boca não pode estar acontecendo. É inadmissível e mostra que há muito tempo não está sendo feito o tratamento com regularidade. O tratamento deveria ser feito a cada 6 meses, mas, pelo contexto da TIY, poderia ser mais frequente”. Leia a carta na íntegra.
Retrato Yanomami
As denúncias de descaso com a saúde da população Yanomami são recorrentes. Em maio do ano passado, uma imagem rodou o mundo e se tornou um retrato da realidade da crise sanitária que atinge o povo indígena. Na aldeia Maimasi, uma criança deitada em uma rede escura estava tão magra que era possível ver as costelas da menina de 8 anos que, à época, pesava apenas 12,5 quilos — o peso mínimo normal para a idade seria de 20 quilos — acometida por malária, pneumonia, verminose e desnutrição.
A falta, ou escassez, de atendimento médico, aliada à deficiência de fiscalização ambiental, empurra os Yanomami para um cenário desesperador. Estima-se que 20 mil garimpeiros ilegais atuem no território. A atividade de mineração que contamina os rios com mercúrio tem causado deformidades e doenças em mulheres e crianças.
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